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A chama viva


         
           Havia uma vez uma cidadezinha de vaga-lumes, situada num pequeno morro com muito mato que a protegia das chuvas e das tormentas.           
A cidade tinha duas classes de vaga-lumes. Os que levavam a luz na cabeça, sempre acesa, e os que a levavam no ventre que podia ser desligada à vontade.
          Bem longe de lá, brilhava outra luz, distante, embora tremendamente presente, de tal maneira que parecia ter vida própria. Era diferente, era uma luz viva. Sempre no mesmo lugar, atraía profundamente os olhares e a curiosidade dos vaga-lumes.
            Todos os vaga-lumes estavam intrigados com aquela luz, tão diferente, distante, brilhante e permanente. Havia diferentes explicações para essa luz misteriosa. Para alguns, dava medo, para outros, era motivo de zombaria, e muitos a veneravam pela fascinação que produzia. Mas todos podiam distingui-la, apesar da distância. Até os míopes eram obrigados a reconhecer a sua existência.
            Como saber sobre a luz? Convocou-se uma assembléia geral. Houve discussões, palpites e dicas de todo tipo, mas ninguém ficou satisfeito. Alguém tinha que se arriscar e ir ver...  Quem seria o enviado para isso? Por fim, o vaga-lume mais inteligente disse:
            Eu vou ver e depois lhes contarei a verdade.
Só pediu que todos o estivessem esperando com suas luzes ligadas para ele não se  perder no escuro vale que os separava da luz.
E partiu. Com seu olhar fixo na luz, foi-lhe fácil orientar-se. Atravessou a escuridão, percebendo que, à medida que avançava, a escuridão era cada vez menos densa. E chegou.
Encontrou um castelo com uma janela bem larga e aberta à sua frente, dando entrada a um grande salão, em cujo centro havia um enorme círio aceso. O resplendor era tão intenso que teve que fechar os olhos para não ficar cego...
     Com muita precaução, voou ao redor da chama, bem perto das paredes do salão. Seu assombro crescia. Realmente, aquela luz era maravilhosa! Era tanta que se derramava sobre cada objeto, convertendo-o em puro brilho. Ela alumbrava e deslumbrava. Tudo recebia dela forma e cor.
            Depois de ver tudo aquilo, com os olhos cheios daquele espetáculo, saiu do castelo  rumo a sua cidade.
            Chegando, contou com detalhes o que tinha visto. Sobretudo, a fascinação por aquela luz que tinha tanta riqueza, permitindo que todas as coisas pudessem ser vistas, distinguidas e reconhecidas.
      Respondeu a todas as perguntas, mas só aumentou nos outros vaga-lumes o fascínio e a vontade  de  conhecer em profundidade  aquela luz. Ele só a tinha visto, não a tinha tocado nem sentido. Não podia falar sobre a luz propriamente, apenas sobre os seu efeitos.
      Alguém tinha que tentar de novo. Desta vez, foi o mais corajoso quem se ofereceu. Ele se aproximaria da chama para  saber quem era ela.
      Bem orientado pelo amigo, entrou também pela janela do castelo e com grande coragem se aproximou da chama. Começou a perceber o calor, viu que lhe estava comunicando vida, força e energia. Acabou o frio que tinha e o cansaço; e, cheio de alegria, partiu para sua cidade para comunicar seu entusiasmo.
      Contagiou de tal maneira a todos que quase não precisou de nenhuma explicação. Era tamanho seu entusiasmo que irradiava o que tinha vivido.
      Todos os vaga-lumes ficaram desassossegados e muito excitados. Quem é essa luz? A esta pergunta, o vaga-lume não soube responder. Só podia falar dos efeitos experimentados, mas não tinha a experiência da chama. Não teve coragem de tocá-la. Temia entregar-se de tal forma que fosse consumido.
            No meio do silêncio, escutou-se uma pequena voz. Era do vaga-lume sonhador.
 Eu vou, eu vou.
                 Houve mais confusão ainda sobre o assunto, porque na cidade, ninguém levava a sério o sonhador. Falava com tais imagens e palavras que quase não era entendido.   Mas ele partiu... Foi direto, fascinado pela luz. Entrou pela janela com os olhos dilatados e fixos na CHAMA VIVA...  e se deixou seduzir.
                 Da cidade, apenas se viu uma pequena explosão de luz. E lá, ficou ardendo, unido para sempre à chama que não se consome, mas assume. Nunca mais regressou para dar respostas. Apenas criou mais interrogações.
                 Desde aquele dia, na cidade dos vaga-lumes, se sabe que alguém deles lhes está mandando mensagens, lá da chama viva.
                 Entre eles, há ainda inteligentes... há também os corajosos e, certamente,  alguém que sonha.


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