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Aprendizado do amor


            Diante dessa dificuldade e depois de profunda meditação, fez o seguinte: tomou a redondeza da Lua, as curvas suaves das ondas, a terna aderência de uma planta trepadeira, o trêmulo movimento das folhas, a magreza da palmeira, a cor delicada das flores, o olhar amoroso da corça, a alegria do raio de sol e as gotas de pranto das nuvens, a inconstância do vento e a fidelidade do cão, a modéstia do lírio e a vaidade do pavão, a suavidade da pluma do cisne e a dureza do diamante, a doçura da pomba e a crueldade do tigre, o ardor do fogo e a frieza da neve. Com essa mistura de ingredientes tão desiguais, criou a mulher e deu-a ao homem. 

            Depois de uma semana, o homem veio e Lhe disse:

            - Senhor, a criatura que me deste me faz infeliz: quer toda a minha atenção, nunca me deixa sozinho, fala sem parar, chora sem motivo, diverte-se fazendo-me sofrer e estou vindo devolvê-la porque não posso viver com ela!

            - Está bem, respondeu Deus, e tomou a mulher de volta. 

            Passou outra semana, o homem voltou e Lhe disse:

            - Senhor, estou muito solitário desde que devolvi a criatura que fizeste para mim. Ela cantava e brincava ao meu lado, olhava-me com ternura e seu olhar era uma carícia, ria e seu riso era música, era formosa e suave ao tato. Devolve-a para mim, porque não posso viver sem ela!

            - Está bem, disse o Criador. E a devolveu.

            Mas, três dias depois, o homem voltou e disse:

            - Senhor, eu não sei. Eu não consigo explicar, mas depois de toda esta minha experiência com esta criatura, cheguei à conclusão que ela me causa mais problemas do que prazer. Peço-te, toma-a de novo! Não consigo viver com ela!

            O Criador respondeu:

            - Mas também não podes viver sem ela.

            Virou as costas para o homem e continuou o seu trabalho.

            O homem desesperado disse:

            - Como é que eu vou fazer? Não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela.

            - Achei que, com as tentativas, tu já tivesses descoberto, respondeu, então, Deus. - Amor é um sentimento a ser aprendido: é tensão e satisfação. É desejo e hostilidade. É alegria e dor. Um não existe sem o outro. A felicidade é apenas uma parte integrante do amor. Isto é o que deve ser aprendido. O sofrimento também pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor. A sua própria beleza e o seu próprio fardo. Em todo o esforço que se realiza para o aprendizado do amor, é preciso considerar sempre a doação e o sacrifício ao lado da satisfação e da alegria. A pessoa terá sempre que abdicar alguma coisa para possuir ou ganhar uma outra. Terá que desembolsar algo para obter um bem maior e melhor para sua felicidade. É como plantar uma árvore frente a uma janela. Ganha-se sombra, mas perde-se uma parte da paisagem. Troca-se o silêncio pelo gorjeio da passarada ao amanhecer. É preciso considerar tudo isto quando nos dispomos a enfrentar o aprendizado do amor.

Aprendendo a pedir

            Rafi, um jovem discípulo atento e dedicado, resolveu isolar-se nas montanhas para trabalhar melhor o medo que ainda sentia das criações do seu próprio ego. Quando lá chegou, um velho sorridente o recebeu:
            - Sejas bem vindo, filho!
            Rafi não estava esperando encontrar ninguém naquele lugar, então perguntou:
            - Não esperava encontrar alguém nesta montanha, o que fazes aqui?
            E o velho, calmamente, respondeu:
            - Vim para realizar qualquer pedido que me faças. E seja muito preciso, pois terás direito apenas a um pedido.
            Rafi estranhou, mas aceitou a proposta do velho e fez o seu pedido:
            - Desejo nunca mais sentir medo de nada!
            E o velho disse:
            - Que assim seja!
            E quando Rafi voltou-se para o velho, este havia sumido. Anoiteceu, e Rafi começou a sentir muito medo dos sons que vinham da mata. Por mais que tentasse manter-se relaxado e meditativo, não conseguia. O medo o tomava cada vez mais. Em todos os cantos da montanha ele percebia inúmeros perigos e começou a gritar por socorro. Sentia um medo enorme pairando em seu ser, a ponto de entrar em pânico.
            - Socorro, socorro! Alguém me ajude!
            E, de repente, o Velho apareceu à sua frente. Rafi gritou ainda mais com a aparição inesperada do velho.
            - Por que estás a gritar, Rafi?
            - Ora, pedi que ficasse livre de todos os medos e o que eu mais sinto neste momento é exatamente o oposto. Não atendestes ao meu pedido, velho. E agora estou em apuros.
            Então, o velho lhe disse:
            - Quando pedes, deves saber que nada desaparece ou aparece por si mesmo. Para estar livre do medo, deves trabalhar com o medo. Deves encará-lo de frente, conhecer sua natureza frágil e ilusória.
Só assim, mostrando tua determinação em aprender, é que dissipas as maiores ilusões criadas por ti mesmo.
...
Quando sentires falta de alguma coisa que ainda não tens, não precisas entristecer-te. Se esta mesma coisa possuir valor para ti, recolha teu ser no mais absoluto silêncio e pede. Mas, pede exatamente como queres. Pois, em muito dos teus pedidos ainda desconheces as conseqüências que acompanham cada um deles. Teus pedidos nunca vêm sozinhos. Tens que estar ciente que, para receber o que pediste, deves estar preparado para também receber os meios pelos quais eles podem ser realizados. E, será que tu estás preparado para passar por estes meios?

Anjos de uma só asa

Lá estava eu com a minha família, de férias, num acampamento isolado, com o carro enguiçado. Isso aconteceu há 10 anos, mas lembro-me como se fosse ontem. Tentei dar a partida no carro. Nada. Caminhei para fora do acampamento e felizmente meus palavrões foram abafados pelo barulho do riacho que passava por ali. Concluímos que éramos vítimas de uma bateria descarregada.
            Sem alternativa, decidi voltar a pé até uma vila mais próxima, a alguns quilômetros de distância. Depois de duas horas e um tornozelo torcido, cheguei finalmente a um posto de gasolina.
            Ao me aproximar do posto, dei-me conta de que era domingo de manhã. O lugar estava fechado, mas havia um telefone público e uma lista telefônica caindo aos pedaços. Telefonei para a única companhia de auto-socorro, localizada na cidade vizinha, a cerca de 30 km de distância.
            Um cara chamado Zé atendeu o telefone e me ouviu enquanto eu explicava o ocorrido.
            - Não tem problema - ele disse quando dei minha localização - normalmente estamos fechados aos domingos, mas acho que posso chegar aí em mais ou menos meia hora.
           Fiquei aliviado que estivesse vindo, mas ao mesmo tempo consciente das implicações financeiras que essa oferta de ajuda significaria.
            Ele chegou em seu reluzente caminhão-guincho e nos dirigimos para a área do acampamento. Quando saiu do caminhão, me virei e observei, com espanto, o tal Zé descer com aparelhos na perna e a ajuda de muletas. Ele era paraplégico! Enquanto ele se movimentava, comecei novamente minha ginástica mental em calcular o preço da sua boa vontade.
            - É só uma bateria descarregada, uma pequena carga elétrica e vocês poderão ir embora.
            O Zé reativou a bateria e, enquanto ela recarregava, distraiu meu filho pequeno com truques de mágica. Ele até mesmo tirou uma moeda da orelha e deu para o meu filho. Enquanto ele colocava os cabos de volta no caminhão, perguntei quanto lhe devia.
            - Oh! nada - respondeu, para minha surpresa.
            - Tenho que lhe pagar alguma coisa - argumentei.
            - Não - ele reiterou. - Há muitos anos atrás, alguém me ajudou a sair de uma situação pior do que esta, quando perdi as minhas pernas, e o sujeito me disse apenas para "passar isso adiante". Portanto, você não me deve nada. Apenas lembre-se: Quando tiver uma chance, "passe isso adiante".
            Assim, aprendi que somos "anjos de uma asa só". Precisamos nos abraçar para alçar vôo. Precisamos uns dos outros. Sempre que puder, ajude alguém e verá o que estará fazendo a você mesmo.

Amor de Pai


            Havia um homem muito rico, possuía muitos bens, uma grande fazenda, muito gado e vários empregados a seu serviço. Tinha ele um único filho, um único herdeiro que, ao contrário do pai, não gostava de trabalho, nem de compromissos.
            O que ele mais gostava era de fazer festas, estar com seus amigos e de ser bajulado por eles.
            Seu pai sempre o advertia de que seus amigos só estariam ao seu lado, enquanto ele tivesse o que lhes oferecer. Depois, o abandonariam.
            Os insistentes conselhos do pai lhe entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Não lhes dava um mínimo de atenção.
            Um dia, o pai já de idade avançada, disse aos seus empregados para construírem um pequeno celeiro e dentro dele, ele mesmo fez uma forca e junto a ela, uma placa com os dizeres: "PARA VOCÊ NUNCA MAIS DESPREZAR AS PALAVRAS DE SEU PAI".
            Mais tarde, chamou o filho e o levou até o celeiro e lhe disse:
            - Meu filho, eu já estou velho e, quando eu partir, você tomará conta de tudo o que é meu e, eu sei qual será o seu futuro. Você vai deixar a fazenda nas mãos dos empregados e irá gastar todo o dinheiro com seus amigos.
           Irá vender os animais e os bens para se sustentar e, quando não tiver mais dinheiro, seus amigos vão se afastar de você e, quando você não tiver mais nada, vai se arrepender amargamente de não ter me dado ouvidos. Foi por isto que eu construí esta forca. Ela é para você e, quero que você me prometa que se acontecer o que eu disse, você se enforcará nela.
           O jovem riu, achou um absurdo, mas, para não contrariar o pai, prometeu e pensou que jamais isso iria ocorrer.
            O tempo passou, o pai morreu e seu filho tomou conta de tudo mas, assim como seu pai havia previsto, o jovem gastou tudo, vendeu os bens, perdeu os amigos e a própria dignidade.
           Desesperado e aflito, começou a refletir sobre sua vida e viu que havia sido um tolo. Lembrou-se das palavras de seu pai e começou a chorar e dizer:
        - Ah, meu pai... Se eu tivesse ouvido os seus conselhos... mas agora é tarde... tarde demais.      Pesaroso, o jovem levantou os olhos e, de longe, avistou o pequeno celeiro. Era a única coisa que lhe restava. A passos lentos, se dirigiu até lá e entrando, viu a forca e a placa empoeirada e pensou:
            - Eu nunca segui as palavras do meu pai, não pude alegrá-lo quando estava vivo mas, pelo menos desta vez, farei a vontade dele. Vou cumprir a minha promessa. Não me resta mais nada...
            Então, ele subiu os degraus, colocou a corda no pescoço e pensou: "Ah, seu eu tivesse uma nova chance..." Então, se jogou do alto dos degraus e, por um instante, sentiu a corda apertar a sua garganta... Era o fim...
            Mas o braço da forca era oco e quebrou-se facilmente; e o rapaz caiu no chão. E sobre ele, caíram jóias, esmeraldas, pérolas, rubis, safiras e brilhantes, muitos brilhantes...
          A forca estava cheia de pedras preciosas e, junto, um bilhete caiu: "Esta é a sua nova chance. Eu te amo muito! Com amor, seu velho e já saudoso pai".

Amanhã lhe direi

             Havia, certa vez, uma formiguinha. Era como toda boa formiga: trabalhadeira e serviçal. Passava carregando folhinhas, de dia e de noite: quase não tinha tempo para descansar. E assim transcorria sua vida, trabalhando e trabalhando.

            Um dia, foi buscar comida em um celeiro que era um pouco distante de sua casa e, para sua surpresa, ao chegar, viu um botão de lírio que se abria, fazendo surgir uma delicada florzinha. Aproximou-se e disse:
            - Olá! Sabe? Você é muito bonito! Quem é você?

            A florzinha respondeu:
            - Sou um lírio. Obrigado. E você quem é? É muito simpático!

            - Obrigada! Sou uma formiga.

            E assim, a formiguinha e o lírio continuaram conversando o dia todo, tornando-se grandes amigos.

            Ao anoitecer, a formiga voltou à sua casa, não sem antes prometer ao lírio que voltaria no dia seguinte. Enquanto caminhava, a formiga descobriu que admirava seu amigo e que gostava muitíssimo dele. Prometeu a si mesma que amanhã lhe diria que sua maneira de ser o encantava.

            O lírio, quando ficou sozinho, disse a si mesmo: " Como gosto da amizade da formiga! Amanhã, quando ela vier, lhe direi isso".

            Mas, no dia seguinte, a formiga se deu conta de que não havia trabalhado nada no dia anterior, pois ficara de prosa com o lírio, e decidiu que iria repor o tempo perdido. Pensou: "Amanhã irei ver o lírio; hoje não posso, estou muito ocupada; amanhã lhe direi que o admiro muito e que estou sentindo saudades dele".

            No dia seguinte, amanheceu chovendo e a formiga não pôde sair de casa: "Que azar! Hoje também não verei o lírio. Bem, não importa, amanhã lhe direi o quanto ele é especial para mim".

            No terceiro dia, a formiguinha acordou muito cedo e foi a celeiro, mas ao chegar, encontrou o lírio no chão, sem vida. A chuva e o vento haviam destruído seu talo. Então a formiga pensou: "Como fui boba! Desperdicei tanto tempo! Meu amigo se foi, sem saber quanto eu o queria! Como me arrependo!"

            E assim os dois nunca souberam o quanto eram importantes um para o outro.
...
 Não espere o amanhã para sonhar, e por motivo nenhum deixe de dizer a uma pessoa que a ama!

Adversidades, cenoura, ovo e café

Uma filha se queixou a seu pai sobre sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ela. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido, um outro surgia.
            Seu pai, um chef, levou-a até a cozinha dele. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo as panelas começaram a ferver. Em uma, ele colocou cenouras, em outra, colocou ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse sem dizer uma palavra.
             A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo.
            Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tigela. Retirou os ovos e os colocou em outra tigela. Então, pegou o café com uma concha e o colocou em uma terceira tigela. Virando-se para ela, perguntou:
            ─ Querida, o que você está vendo?
            ─ Cenouras, ovos e café, ela respondeu.
            Ele a trouxe para mais perto e pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Ele, então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu, e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso. E perguntou humildemente:
            ─ O que isto significa, pai?
            Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade ─ água fervendo ─ mas que cada um reagira de maneira diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas depois de ter sido submetida à água fervendo, amolecera e se tornara frágil. Os ovos eram frágeis, mas sua casca fina havia protegido o líquido interior; e depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rijo. O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água.
            ─ Qual deles é você? ─ele perguntou à sua filha. ─ Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café?

*******

E você? Você é como a cenoura que parece forte,
mas com a dor e a adversidade você murcha e se torna frágil e perde sua força? Será que você é como o ovo, que começa com um coração maleável? Você teria um espírito maleável, mas depois de alguma morte, uma falência, um divórcio ou uma demissão, você se tornou mais difícil e duro? Sua casca parece a mesma, mas você está mais amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis? Ou será que você é como o pó de café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a 100 graus centígrados. Quanto mais quente estiver a água, mais gostoso se torna o café. Se você é como o pó de café, quando as circunstâncias se tornam piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores. Como você lida com a adversidade?

A Violeta e o Cardo

            Contam que um santo, ao amanhecer, fazia sua oração e, para isso, punha numa mão um cardo e na outra uma violeta.
            Um dia, lhe perguntaram por que fazia isso e ele respondeu:
            - O cardo me lembra o orgulho. A violeta, a humildade.
            - E por que?  Voltaram a lhe perguntar.
            O santo lhes respondeu:
            - O cardo é grande e altivo, não dá frutos, somente tem espinhos que se cravam como flechas; machucam-nos quando tentamos nos aproximar dele.
            A violeta, pelo contrário, é uma flor pequena, simples, insignificante, mas com cheiro muito agradável. Como a humildade, não aparece, mas está presente no falar e no agir.

A vantagem de ser cristão

            Um mercador inglês chegou a uma ilha do Oceano Pacífico. Um nativo se ofereceu para levar sua bagagem, do bote até o hotel.
            Durante o caminho, conversaram sobre os missionários e sua obra evangélica; o negociante que era ateu perguntou-lhe em tom depreciativo:
            - Que vantagem você teve em ser cristão?
            - Eu posso ressaltar uma vantagem que você teve por eu ser cristão. Vê, logo ali, aquela pedra plana?
            - Sim, claro que vejo.
            - Pois então. Se você tivesse vindo quando eu era pagão, eu o teria degolado sobre aquela pedra plana e, em seguida, meus amigos e eu o teríamos comido. No entanto, agora eu o ajudo a carregar sua bagagem, muito contente em poder servi-lo.

A tigela

Um dia, um mendigo parou o rei que passava pela rua.
            O soberano disse:
            - Como é que você, pessoa insignificante, se atreve a interromper o andar de seu soberano?
             O mendigo respondeu:
            - Será que você é um rei, se nem é capaz de encher a minha tigela?
            Aí, ele apresentou a tigela e o rei ordenou que a enchessem de ouro.
            Mas, quando parecia que estava quase cheia, as moedas desapareciam, deixando a tigela vazia.
            Trouxeram sacos e mais sacos de moedas e a tigela continuou devorando tudo.
            - Pára aí - gritou o soberano. - Você é um ladrão enganador que está esvaziando o meu tesouro!
            - Segundo sua majestade, eu estou esvaziando seu tesouro, mas para os outros eu estou lhe ensinando uma verdade.
            - Que verdade - perguntou o rei?
            - A verdade é que a tigela representa os desejos das pessoas, e o ouro, o que cada pessoa recebe. A capacidade de devorar dos seres humanos não tem fim se não mudam a forma de receber e de usar. Olha, a tigela devorou praticamente toda a sua riqueza, mas continua sendo uma metade de coco vazia e não adquiriu, de nenhuma maneira, a natureza e as propriedades do ouro. Se você cair nesta tigela, ela também o devorará. Como pode ainda se considerar importante?


A roupa não faz o homem

            Mahatma Gandhi provou que a "roupa não faz o homem". 
Ele só usava uma tanga a fim de se identificar com as massas simples da Índia.
           
            Certa vez, ele chegou assim vestido numa festa dada pelo governador inglês. Os criados não o deixaram entrar.
            Ele voltou para casa e enviou um pacote ao governador, por um mensageiro. Dentro, continha um terno.
            O governador ligou para a casa dele e perguntou-lhe o significado do embrulho.
            O grande homem respondeu:
            -  Fui convidado para a sua festa, mas não me permitiram entrar por causa da minha roupa. Se é a roupa que vale, eu lhe enviei o meu terno.

A pedra do Mestre

Havia uma pedra, bela e grande.
            Um dia, alguém passou por ali e vendo a pedra, pôs-se a contemplá-la. Ficou, por um longo tempo, olhando os contornos da pedra, as flores que a rodeavam e o sol que parecia deixá-la mais bonita.
            Disse para si mesmo: esta é a Pedra do Mestre. Posso vê-Lo sentado sobre ela a sorrir para mim. E entrou em êxtase rapidamente. Foi quando outra pessoa chegou e lhe falou:
            - Estou, há algum tempo, a observar-te, de frente para esta pedra, e penso: o que pode levar alguém sorrir por tanto tempo a uma pedra e, sinceramente, não encontro um justo motivo  que possa me convencer de que não estejas perdendo teu tempo.
            Ele voltou-se para o estranho que invadira seu momento com o Mestre:
            - Pois bem. Fico também pensando em algo: o que pode levar alguém a perder seu tempo tão precioso querendo entender algo que está somente para ser sentido?
Eu olho para a pedra e vejo Deus. Eu olho para a pedra e sinto Deus. Tu olhas para a mesma pedra,  mas nada vês e, com tua mente, julgas o que não estás sentindo. Para tornar-te um sábio, meu amigo, é preciso que vejas e sintas com o coração. Só assim poderás ver, mesmo numa pedra, a presença de Deus a abençoar-te.

A paz perfeita

            Houve um reino que ofereceu um grande prêmio ao artista que fosse capaz de captar numa pintura a paz perfeita.
            Muitos os artistas tentaram.
            O rei observou e admirou todas as pinturas, mas houve apenas duas de que ele realmente gostou. A primeira era um lago muito tranqüilo. Este lago era um espelho perfeito onde se refletiam plácidas montanhas que o rodeavam. Sobre elas, encontrava-se um céu muito azul com tênues nuvens brancas. Todos que olhavam para essa pintura viam refletida uma paz muito grande.
            A segunda pintura também tinha montanhas. Mas estas eram escabrosas e estavam despidas de vegetação. Sobre elas havia um céu tempestuoso do qual se precipitava um forte aguaceiro com faíscas e trovões. Montanha abaixo, parecia descer uma turbulenta torrente de água. Tudo isso se revelava nada pacífico. Quando se observava mais atentamente, atrás da cascata havia um arbusto crescendo de uma fenda na rocha. Nesse arbusto encontrava-se um ninho. E ali, em meio ao ruído e à violência da cena, estava um passarinho placidamente sentado no seu ninho.
            Essa foi a pintura escolhida pelo rei que explicou:
            - Paz não significa estar num lugar sem ruídos, sem problemas, sem trabalho árduo ou sem dor. Paz significa que, apesar de se estar no meio de tudo isso, permanecemos calmos em nosso coração. Este é o verdadeiro significado da paz.

A outra face

         Existia um mosteiro que estava situado no alto da montanha. Seus monges eram pobres, mas piedosos, e conservavam, em uma estante, três manuscritos antigos muito valiosos. Eles viviam do esforço do trabalho rural e, fundamentalmente, das ofertas que os fiéis curiosos em conhecer os três rolos, únicos no mundo, deixavam. Eram velhos papiros, com fama universal de importantes e de conterem pensamentos profundos.
            Um dia, um ladrão roubou dois dos rolos e fugiu, ladeira abaixo.
            Os monges avisaram rapidamente o abade e este, como um raio, pegou o terceiro rolo que havia restado e correu atrás do agressor e o alcançou:
            - O que fizeste? Me deixaste com um só rolo! De nada me servirá. Ninguém virá aqui para ler uma mensagem incompleta. Tampouco têm valor os que me roubaste. Ou me devolves os dois ou levas também este. Assim, terás a obra completa.
            - Padre, eu estou desesperado! Necessito, urgentemente, de fazer dinheiro com estes escritos santos.
            O abade disse:
            - Bom, toma o terceiro rolo. Se não, o mundo vai perder algo muito valioso. Vende-o bem. Estamos em paz.
            E o deixou ir embora com o tesouro.
            Os monges não compreenderam a atitude do abade. Acharam que ele havia sido mole com o rapaz e, com isso, o mosteiro fora o perdedor. Mas guardaram silêncio e deram por encerrado o assunto.
            Conta a história que, durante a semana, o ladrão voltou. Pediu para falar com o padre superior:
            - Aqui estão os três rolos, não são meus. Devolvo-os e te peço, em troca, que me permitas ingressar como monge. Quando me alcançaste, esperava tudo, menos que tivesses a generosidade de dar-me o terceiro rolo, a confiança em acreditar na minha necessidade e ainda me dizer que estávamos em paz, perdoando-me com muita sinceridade. Isso me fez mudar. Minha vida se transformou.
            Nunca esse homem havia sentido a grandeza do perdão, a presença da generosidade magnânima. O abade recuperou os três manuscritos para benefício do mosteiro, agora muito mais visitados, por causa da lenda do roubo e do ressarcimento. E, além disso, conseguiu um monge trabalhador e de uma honestidade a toda a prova.


O agressor espera agressão, não uma resposta criativa, inesperada ou insólita.
Não suspeita, na emoção, do poder incalculável de dar a outra face.

A ostra Marina

            Mas Marina, aliás, como todas as ostras, tinha uma preciosa qualidade que era a de produzir substâncias  sólidas. Fazem isso para construir sua concha defensiva rugosa por fora e bem lisa por dentro.




Era-se uma vez, uma ostra  do mar que se chamava Marina.
           Ela tinha-se fixado fortemente numa rocha, bem no fundo do mar, e tinha decidido viver bem tranqüila e sossegada. Ela só queria ser feliz.
           Mas o Senhor fixou seus olhos nela  porque tinha decidido que teria muito valor.
           Um certo dia,  numa tormenta de intensidade tal que mexe até no fundo do mar, o Senhor  pôs um grãozinho de areia dentro dela.
           Quando o grão entrou  no corpo de Marina, ela se fechou violentamente.
           Ela sempre fazia isso, quando  algo entrava  na sua vida, porque é a forma de se alimentar das ostras.
           Elas  integram e assimilam tudo o que entra dentro delas. Se isto não é possível, o expulsam para o exterior.
           Mas aconteceu que Marina não conseguiu  pôr para fora aquele grão.
           Não podia integrar o que Deus lhe tinha enviado, lhe doía muito  e a feria constantemente. Não podia nem assimilá-lo, nem integrá-lo,  nem ignorá-lo, nem suprimi-lo.
            Então, só lhe pareceu que existia um caminho. Lutar contra a dor, amargurar-se, fazer um tumor dentro dela que lhe envenenasse a vida própria e a dos outros.
            O grão podia ser  usado também, para   formar uma pérola. E assim fez Marina. Pouco a pouco, foi rodeando o grãozinho de areia com o melhor de si e começou a fazer uma  linda pérola.
            Um dia, uns mergulhadores tiraram algumas ostras do fundo e, entre elas,  foi  Marina.
            Quando a abriram pelo meio, ninguém lhe perguntou se tinha sido feliz, simplesmente constataram que tinha uma pérola que valia muitíssimo.

Só constroem pérolas os que decidem rodear com o melhor de si as dores produzidas 
pelos  corpos estranhos  que entram nas suas vidas.

A lebre e o tigre

             O jovem desta história estava muito decepcionado e cheio de amargura pela maneira desumana como todas as pessoas se comportavam, parecendo que nada importava a ninguém.
            Um dia, passeando, viu que uma pequena lebre levava comida a um enorme tigre ferido que não podia cuidar de si mesmo. Ficou tão impressionado com o fato que voltou no dia seguinte para ver se o comportamento da lebre era casual ou habitual. Com grande surpresa, pôde comprovar que a cena se repetia: a lebre deixava um bom pedaço de carne perto do tigre.
            Passaram-se os dias e a lebre continuou agindo da mesma maneira, até que o tigre recuperou suas forças e pôde procurar sua própria comida.
            Admirado com a colaboração e solidariedade entre os animais, disse a si mesmo: "Nem tudo está perdido. Se os animais, que são inferiores a nós, são capazes de ajudar-se desse modo, muito mais poderemos fazer nós, homens". E decidiu fazer uma experiência: deitou-se no chão, fingindo que estava ferido, e ficou esperando que alguém passasse e o ajudasse.
            As horas passaram, chegou a noite e ninguém se aproximou para ajudá-lo. Já ia se levantar, muito mais decepcionado que antes, com a convicção de que a humanidade não tinha mais remédio. Sentiu dentro de si todo o desespero do faminto, a solidão do doente, a tristeza do abandono. Seu coração estava desolado, quase não queria mais levantar-se. Então, naquele instante, ouviu com clareza, uma voz maravilhosa bem dentro dele, dizendo: "Se você quer encontrar seus semelhantes, se quer sentir que a vida vale a pena, se quer continuar acreditando na humanidade, para ver seus semelhantes como irmãos, deixe de se fazer de tigre e, simplesmente, seja a lebre!"
Piera de Napolitano


Imitar e desenvolver em meu ser
a atitude que faz bem ao coração... ao meu e ao seu!

A janela

         Certa vez, dois homens estavam seriamente doentes na mesma enfermaria de um grande hospital. O cômodo era bem pequeno e nele havia uma janela que dava para o mundo. Um dos homens tinha, como parte do seu tratamento, permissão para sentar-se na cama por uma hora durante as tardes (algo que tinha a ver com a drenagem de fluido de seus pulmões). Sua cama ficava perto da janela.
         O outro, contudo, tinha de passar todo o seu tempo deitado de barriga para cima. Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado em posição sentada, passava o tempo descrevendo o que via lá fora.
         A janela dava para um parque onde havia um lago. Havia patos e cisnes no lago, e as crianças iam atirar-lhes pão e colocar na água barcos de brinquedo. Jovens namorados caminhavam de mãos dadas entre as árvores, e havia flores, gramados e jogos de bola. E ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contorno dos prédios da cidade.
         O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos os detalhes. Ouviu sobre como uma criança quase caiu no lago e sobre como as garotas estavam bonitas em seus vestidos de verão.

As descrições do seu amigo eventualmente o fizeram sentir que quase podia ver o que estava acontecendo lá fora.
         Então, em uma bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: Por que o homem que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava acontecendo? Por que ele não podia ter essa chance?
         Sentiu-se envergonhado, mas quanto mais tentava não pensar assim, mais queria uma mudança. Faria qualquer coisa!
         Numa noite, enquanto olhava para o teto, o outro homem subitamente acordou tossindo e sufocando, suas mãos procurando o botão que faria a enfermeira vir correndo. Mas ele o observou sem se mover... mesmo quando o som de respiração parou. De manhã, a enfermeira encontrou o outro homem morto e, silenciosamente, levou embora o seu corpo.
         Logo que lhe pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser colocado na cama perto da janela. Então, colocaram-no lá, aconchegaram-no sob as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortável. No minuto em que saíram, ele apoiou-se sobre um cotovelo, com dificuldade e sentindo muita dor, e olhou para fora da janela.
         Viu apenas um muro...

Tão lindo pensar que é uma questão de amar,
mostrar o que existe lá fora, a partir do coração...
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