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Com ela, é possível aceitar, até com simpatia, o amigo que adora uma picanha, mesmo quando somos vegetarianos convictos. Ou apreciar o ponto de vista de um budista, mesmo quando somos católicos fervorosos. Considerar que a ioga pode ser tão saudável quanto uma aula de aeróbica ou que a música pode ser tão bem-vinda quanto o silêncio. Com mais compreensão, até a briga entre marido e mulher por causa do futebol, um clássico dos lares brasileiros, pode chegar a uma boa solução.
Respeite o gosto dos outros e observe como sua vida se modifica.
Existem várias alternativas para se resolver conflitos, mas nenhuma delas entra em prática se não houver tolerância. É essa qualidade que abre espaço para a negociação, para o diálogo e a superação de obstáculos. Com flexibilidade, é possível ceder, ouvir o que a outra pessoa tem a dizer e chegar a um acordo. É por isso que vale a pena praticar a tolerância. Ela tem o poder de transformar realidades e unir pessoas.
O exercício da tolerância inclui, em primeiro lugar, o respeito à outra pessoa. Isso não significa concordar, incondicionalmente, com o que está sendo dito, anular sua opinião ou se submeter ao que nos violenta ou faz mal. A tolerância nos permite considerar que existem, sim, diversas formas de olhar para a vida, outras maneiras de ser ou vários tipos de ideal. E que opiniões diferentes da nossa não significam, necessariamente, uma afronta pessoal. Admitimos que há uma multiplicidade de escolhas.
“Ser tolerante é requisito fundamental para ter mais tranqüilidade e paz de espírito”. Reconhece a terapeuta junguiana Mônica Chemin, de São Paulo. “O problema é muitas vezes não termos tempo para ponderar e refletir. Somos cobrados a reagir, a tomar partido, com muita rapidez. Isto é, o imediatismo pode comprometer a capacidade de ser tolerante”. Passamos a julgar com base em pré-conceitos ou conceitos sem fundamento real. E qual o antídoto? Não se precipitar. “E conhecer mais a nós mesmos, nossos valores mais profundos, no que acreditamos realmente”, fala a terapeuta. Importante também é aceitar a si próprio. “O perfeccionismo é um sintoma de que não aceitamos nossas próprias imperfeições”, diz ela. E a prática da tolerância propõe muita compreensão e paciência, primeiro com nós mesmos e depois nos relacionamentos, no casamento, no trabalho, na escola.
Onde tudo começa.
“A educação é o meio mais eficaz de criar uma cultura de tolerância. Ela pode estimular as crianças a serem mais abertas, curiosas e receptivas às diferenças. O acesso à educação também desenvolve o senso crítico para recusar a intolerância e o preconceito que podem estar presentes nos meios de comunicações, na família ou no ambiente social”, diz Carlos Alberto dos Santos, coordenador de programas na área de Direitos Humanos da UNESCO. Outro cuidado é prestar atenção nas mensagens de intolerância que são repassadas às crianças por meio de piadas e apelidos ― detalhes que pesam muito durante o processo de formação de valores. Sempre vale, portanto, não estimular o preconceito.
O bombardeio de informações que recebemos todos os dias, muitas vezes incentiva que se forme um universo de semelhantes, onde se exclui o que é diferente de nós. Mas isso não é irreversível, desde que haja consciência. “Todos nós podemos contribuir para criar um mundo em que todas as diferenças sejam bem–vindas”, diz o coordenador. O futuro certamente agradece.
(Texto extraído da revista Bons Fluidos -julho 2002.
Reportagem: Wilson F. de Weigel/ texto: Liane Camargo de Almeida e Wilson F. de Weigel)
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